mineiro pau no estado do rio de janeiro
GRUPO DE MINEIRO PAU MESTRE ZÉ PRETINHO
DUAS BARRAS
O grupo Mineiro-Pau do Zé Pretinho nasceu há 40 anos nos terreiros de secar café da Fazenda da Serra, no município de Duas Barras. De lá pra cá foram centenas de apresentações por todo o estado, incluindo aí o inesquecível desfile no carnaval de 2001, na Marques de Sapucaí, na cidade do Rio de Janeiro, quando o grupo acompanhou o sambista Martinho da Vila na Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.
José Silva de Oliveira, o Zé Pretinho, tem 59 anos e nasceu e viveu a vida toda em Duas Barras. Quando era criança, ajudava a família nos trabalhos da lavoura e nas tardes de sábado corria para as redondezas da fazenda, onde sempre encontrava algum descendente de escravo que conhecia os detalhes da dança e do ritmo do mineiro-pau. "Desde criança aprendi a respeitar a cerimônia." Foi conhecendo outros mestres, outros tocadores, que começou a guardar na cabeça os versos e as rimas, assim como o balançar dos pedaços de madeira.
O Mineiro-Pau é uma dança muito conhecida na região centro-norte do estado e se apresenta durante todo o ano, em especial no período de carnaval. É conhecida também como maneiro-pau. É integrada por adultos e crianças de ambos os sexos.
Às mulheres cabe a manutenção da cantoria, enquanto aos homens, a execução de complicada e bela coreografia.
O grupo de Zé Pretinho tem uma peculiaridade: só tem homens. Ao todo, são 22, incluindo o sanfoneiro, o tocador de caixa e de pandeiro, o responsável pelo apito e o calangueiro, que solta versos. Cada dançadorveste uma indumentária simples: calça, camisa de manga curta, chapéu de palha, lenço vermelho no pescoço e traz um ou dois bastões de madeira, feitos com madeira especial: arco de pipa ou ipê. Com eles, executam, de modo ágil e harmonioso, a marcação dos tempos do compasso musical. O manejo dos bastões, finos e resistentes, com cerca de um metro de comprimento, toma nomes específicos conforme o número e a forma das batidas: batida de três, batida de quatro, túnel, batida cruzada, batida ao alto, etc.
A dança de pares soltos que se defrontam, ora em fileiras opostas, ora em círculo único, tem coreografia marcada pela batida dos bastões.O acompanhamento musical é feito com vários instrumentos, mudando de região para região, mas não podem faltar a sanfona de oito baixos, o bumbo, o triângulo e o pandeiro. As músicas têm letras tradicionais ou improvisadas pelo próprio grupo e não obedecem a nenhuma sequência predeterminada. É característico o refrão: "O..Mineiro-Pau... O Mineiro-Pau... Dá em cima, dá em baixo... Dá no meio para não errar... Muita gente aqui veio...Para aprender a dançar...".
Para alguns pesquisadores, o mineiro-pau é uma dança singela, de origem indígena, geralmente apresentada por jovens como forma de recreação. Outros já falam em mistura com rituais africanos e religiosidades portuguesas.
Zé Pretinho hoje não tem a saúde dos tempos passados, mas ainda gosta de dedilhar o teclado da sanfona e conserva em sua modesta casa todos os equipamentos, instrumentos e vestimentas da agremiação. Sentado em um banco da bucólica praça de Duas Barras, ele recorda, emocionado, de fatos e casos do passado. Lembra da fogueira acesa e das rodas que se formavam no terreiro da fazenda onde até a poeira subia com o dançar dos foliões. "Naquela época todo mundo queria aprender a bater os bastões. Todos queriam cantar os versos e muitos amigos, compadres e comadres acompanhavam as batidas com as palmas da mão. Era uma festa bonita que, às vezes, acompanhava a volta da lua no céu estrelado. Hoje lutamos para o nosso grupo não morrer."
Texto e Fotos: Extraído do Mapa da Cultura - Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro - Alvaro Lutterback
http://www.cultura.rj.gov.br/materias/duas-barras-mineiro-pau-do-ze-pretinho